Respondendo às mensagens sobre a minha trajetória até me tornar Delegada de Polícia (agora temos um espaço próprio para isso!):
Estudei durante cinco anos até me tornar Delegada de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.
Antes disso, eu trabalhava no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
Sim, estudei e trabalhei durante todo o período em que me dediquei à aprovação para a carreira de Delegado de Polícia. Trabalhava de segunda à sexta feira e isso nunca foi problema para que eu evoluísse na caminhada.
Sou especialmente grata a dois fatores na minha trajetória:
O primeiro é o esporte. Eu era atleta durante a adolescência. Cresci no esporte, competindo e treinando. Jogava water-polo e treinava de segunda à sexta (ou de segunda à sábado, a depender da época da temporada). Todos os dias. Era rotina meeeesmo.
Choveu... Você vai treinar?! Sim . Está muuuuito frio, você vai treinar (lembrando que o treino era na piscina)?! Sim. Você está em semana de provas na escola.... Sim, tem treino. Você não está se sentindo muito bem... Achando que vai ficar gripada... “Está com febre”?! “Não?!” Então: Tem treino!
Traduzindo: Apenas em situações realmente excepcionais eu não me apresentava para o treino. E detalhe: Era a parte mais maravilhosa do meu dia. Como eu era apaixonada pelo polo aquático, pelo meu time e pelas bagunças diárias de piscina... Eram horas diárias dentro de um clube, com outras 12 meninas e uma equipe que também respirava isso.
Eu não sabia, mas eu estava sendo preparada para muitas outras coisas que não apenas as competições desportivas daqueles anos...
Segui competindo até a metade da faculdade, quando já não conseguia conciliar as coisas. Chegava cada vez mais cansada do estágio e tinha já algumas coisas da faculdade que eu precisava de mais tempo para ler e etc. Por outro lado, no polo eu já disputava na categoria adulto – e ali o “bicho pegava”. Competir mal preparada no adulto era sinônimo de se lesionar (e muito). Foi nessa época que parei com o polo (se eu não fizesse isso, faria uma faculdade “nas coxas” ou reduziria a qualidade no esporte).
Quando parei de competir, meu dia parecia ter dobrado de tamanho. Ficou um buraco gigante. Então, inscrevi-me nas provas de monitoria a minha faculdade. Eu sempre quis lecionar e o programa de monitoria era uma oportunidade para isso. Havia apenas 2 vagas. Uma para o turno da manhã e outra para o da noite. Eu queria a da noite, porque minhas aulas eram pela manhã. Logo: Uma vaga.
Utilizei o tempo que tinha depois do estágio e estudei dois meses para as provas (eram duas fases, uma delas prova de banca – uma “prova oral”). Fui aprovada e garanti a vaga da noite!
Este é o segundo fator: A monitoria.
A partir de então, nos dias de monitoria, saía do estágio e voltava para a faculdade, para dar aulas e realizar as coisas que cabiam ao monitor da matéria. Outra fase em que cresci bastante! Fiz uma faculdade onde realmente estudei e pude manter contato com professores extremamente capacitados que muito me inspiravam.
Já mais para o final da faculdade, realizei a prova da OAB, obtendo a aprovação. Em seguida, abriu concurso para inspetor de polícia civil do Estado do Rio de Janeiro. Realizei a prova e obtive a aprovação (Mas não me apresentei quando da convocação para ingressar na Academia de Polícia. Nesta época eu já estava há meio ano trabalhando no MP/RJ).
Como eu disse linhas acima, eu não sabia... Mas o esporte me preparou para muitas outras coisas... Manter uma rotina de estudos parecia algo tão normal para mim; tenho certeza que isso se deve ao polo aquático.
Quando me formei, já havia adquirido uma capacidade de leitura e concentração bem bacana. Com dez meses de formada, inscrevi-me na prova para Delegado de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Aí sim começa a história...
Passei na primeira fase e... REPROVEI NAS ESPECÍFICAS.
Eu deveria ter ficado feliz. Afinal, passei de fase na primeira prova de concurso público com três fases a que me submeti. Mas não... Fiquei muito triste... E por quê?
Porque eu não sabia NADA sobre o mundo dos concursos. Acreditei piamente que bastava estudar muito. E não basta (escreverei em breve sobre isso. Mas hoje o post tem outro foco.)
Eu não me preparei devidamente e não mereci a aprovação. A regra é clara.
Nesta época, lembrava daqueles campeonatos em que você dedica quase o ano inteiro de treino e volta para a sua casa, desembarcando da viagem, sem aquela medalha de ouro... Relembrava do que os técnicos diziam para o time nesses momentos...
E fui tentando adaptar para meus estudos.
Fiquei uns meses bem mexida com a reprovação. Mas em nenhum momento deixava de ir para a biblioteca antes do trabalho. Confesso, às vezes, não rendia nada... Ficava presa naqueles pensamentos que nos boicotam. Mas meu corpo estava lá, ocupando uma cadeira da biblioteca. E, aos poucos, fui entendendo que não importava o que eu estava sentindo (aquela sensação de que você nunca vai passar para nada). Importa o que você rende e o que você demonstra de resultado na hora da prova.
Aos poucos fui adquirindo uma racionalidade em relação aos estudos. Afastando-me de algumas emoções que somente desmotivam um candidato.
Depois dessa reprovação, não deixei de estudar nenhum dia. Estudei MUITO, mesmo sem perspectiva de edital. Fiz provas para outras carreiras, viajei para outros Estados, fiz de tudo um pouco. Nem tudo eu recomendaria... Fiz muita coisa errada, claro! Mas a inexperiência faz isso. Quebrei a cara com algumas escolhas, mas todas me ajudaram a crescer.
Resumindo bem, foram mais 3 anos estudando, errando, reprovando MUITO e seguindo.
A cada reprovação, eu ia me conhecendo, verificando meus pontos fracos e ajustando o que eu percebia. Foi MUITA reprovação! Muuuita!
Mas, mesmo naquele período em que nos sentimos no olho do furacão, uma coisa não me faltava: A certeza de que eu seguiria até conseguir.
Desistir nunca foi uma opção. Eu sabia – de alguma forma – que o meu caminho era naquele sentido que eu traçava.
Até que, quando chegou o momento – o meu momento, abriu o edital do meu concurso. Tudo muito rápido, como a gente fala: “do nada”. Não rolaram aqueles meses de boatos e etc. Quando começou a ser ventilado, BUM! Edital na rua, prova dentro de pouco tempo!
E lá fui eu... Direcionei os estudos, que já vinham em dia, para me adequar à banca examinadora. Primeira fase: Ok! Rumo à segunda.
Ali sim eu precisava me superar. Especialmente por uma questão pessoal: Foi nesta segunda fase, do concurso para este cargo, que aconteceu o começo de um novo olhar. Era a hora de ver se tudo o que eu achava que tinha percebido de erros me conduziria ao meu cargo. Ou seja: Era a hora de ver se as escolhas dos últimos 3 anos foram acertadas. Três anos...
Resultado da segunda fase: Aprovada!!!!!
Eu nem sei o que senti naquele momento. Foi uma mistura de desespero pela oral que estava por vir com uma sensação de ter as rédeas das próprias fraquezas. Ali eu vi que ter humildade perante os erros tinha valido à pena. E ter me reinventado, modificando hábitos e etc também. Mudar foi bom. É chato... Mas foi bom!
Lá fui eu me preparar para a oral...
Fiz o curso de oratória que se fazia na época, treinei com os colegas aprovados junto comigo e esperamos pela prova (sempre estudando).
Foram três dias de prova, duas matérias por dia. Para a primeira metade dos convocados, segunda quarta e sexta. Para a segunda metade, terça, quinta e sábado. Eu, óbvio, estava na segunda metade da lista: Thaianne, né amigos... Uma das últimas do alfabeto.
Segunda feira... Primeiro dia de prova. Um número assustador de reprovados. RE-PRO-VA-DOS – pânico! Terça feira, estava lá para meu primeiro dia de prova... Correu tudo bem, sem maiores transtornos. Quarta, segundo dia do primeiro grupo: O número de reprovados já estava na casa dos oitenta. Você leu certo – oitenta. Sinceramente... Na quinta eu acordei com um foco fora do comum. Saí de casa para fazer as melhores provas da vida. Briguei com todas as forças para não entrar para esta imensa lista do pânico. Este seria o pior dia de provas – das matérias mais temidas. E correu tudo bem!
Em seguida, o maior desafio... Último dia e, em tese, as matérias que mais me favoreciam – porque eu amava estuda-las. Meu cuidado mudou: passou a ser o de não ser traída pelo comodismo ou coisa do gênero. Passei a sexta feira revisando tudo, como se fossem matérias nunca antes estudadas. Extremo zelo e detalhismo. O mais difícil eu tinha conquistado até ali. Não poderia perder tudo por um golpe de descuido.
Fim! Acabaram as provas. Correu tudo bem e eu consegui ser aprovada nas orais!!!! Voltei para casa nas nuvens e muito cansada (como se o cansaço da semana toda estivesse guardado para ser sentido naquele fim de dia). Claro que ainda não tinha processado o que havia sido traçado naquela trajetória.
Na semana seguinte, foi liberada a lista de classificação e todas as subsequentes formalidades do concurso. Realmente, não tinha erro! Eu estava dentro, super dentro!
A felicidade aumentava a cada segundo, conforme eu conseguia processar o que estava acontecendo. A maior felicidade de todas foi a de conhecer a superação e o que ela pode proporcionar para a nossa vida. Esqueci de contar acima, mas entre a primeira e a segunda fase, eu fiquei muito doente e precisei ser internada... Após ser liberada, ainda precisei ficar alguns dias em repouso e não conseguia render nos estudos. Fiquei com medo disso me tirar do páreo, mas utilizei cada segundo que tive após a recuperação para compensar esse contratempo.
Saí deste concurso muito maior do que entrei. Juridicamente?! Não... A maior dificuldade é lidarmos com nossos monstros interiores e dificuldades extra jurídicas. Para quem ama o Direito, aprofundar os estudos é a parte mais fácil e prazerosa. Difícil é conciliar o mundo com isso.
Por isso eu sempre afirmo: Concurso público não é para os gênios. É para os fortes! Você não pode parar o mundo para estudar, precisa seguir apesar das outras coisas da vida. E quando você mais precisa de tempo, parece que acontece de tudo o que te tirar o tempo...
Mas... VALE A PENA! Seguir firme nos nossos propósitos, sabendo aonde queremos chegar, vale!
Aí, naquela hora em que você coloca o seu distintivo no peito pela primeira vez, você não tem dúvida: Sim, eu sou uma Delegada de Polícia! Com “D” maiúsculo! Batalhei, perseverei e consegui! Melhor que isso: Mereci cruzar a linha de chegada!
Mereçam. Apaixonem-se pelo caminho, pela busca, pela superação. É longo, não adianta... Sigam e desfrutem na chegada!
Sucesso a todos os futuros colegas!!!!
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